No ano de 2010 vimos toda a avalanche de denúncias que encobriram a Assembléia Legislativa do Paraná, enquanto o ex-presidente da Casa, deputado Nelson Justus, alardeava aos quatro ventos, que tudo estava em ordem e que a parcialidade da imprensa, como sempre, comprometia o desdobramento democrático dos fatos. No entanto diretores administrativos foram presos e desbaratou-se uma quadrilha, do colarinho branco é claro, que detinha múltiplos mecanismos para desvio e malversação de recursos públicos.
Uma foz de dinheiro estava sendo utilizado ao bel prazer do grupo mandante no interior da ALEP, o então diretor administrativo Abib Miguel, segundo declarações do ex-presidente, detinha mais poder gerencial sobre o órgão, que o próprio deputado Justus. Era responsável pela nomeação dos “fantasmas” da assembleia, que nem se quer cumpriam o papel de assombrar, pois estavam todos, sempre de férias no litoral catarinense e paranaense. O Ministério Público na sede do poder legislativo reteve documentos e posteriormente foi obrigado a liberar os funcionários anteriormente detidos. Uma vez que a frase clichê e chavão conhecido, é verdadeira. “Ricos e poderosos não vão presos e se eventualmente forem, por pouco tempo permanecem nesta condição”.
Houve uma mobilização na Boca Maldita, capitaneada por intelectuais, imprensa e OAB-PR, além de outros segmentos sociais, reinvindicando moralização na política e imediato afastamento da mesa diretora da Assembleia Legislativa. Eu participei deste ato importante, mas indiscutivelmente foi sem a necessária expressão para forçar a capitulação do grupo político em questão. Provavelmente porque não houve uma adesão massiva da população, que não entendeu as graves motivações do evento e se entendeu não vislumbrou qualquer ressonância em suas vidas. Culminando na eleição de 2010, na qual os deputados integrantes da mesa gestora se reelegeram, contrariando as expectativas de muitos, que acreditavam que as urnas, puniriam e julgariam tais políticos.
Neste momento, presenciamos um novo capítulo da política paranaense, particularmente em nossa capital, expondo nossa cultura de servilismo e hipocrisia. A Câmara Municipal de Curitiba, dito espaço ilibado e honesto, pelos vereadores da situação, é alvo da maldita “imprensa canalha”, como diria nosso ex-governador. Chove copiosamente denúncias de licitações duvidosas, lotação de cargos estratégicos de maneira irregular. Novamente há evidências de que milhões de reais foram gastos com propaganda política, beneficiando a empresa da esposa do presidente do poder legislativo municipal. Dinheiro do povo, que poderia ser melhor aplicado em escolas e hospitais, hoje tão carentes de fomento.
Um outro fato que nos espanta e de certa forma questiona os princípios democráticos, mas segue moldes de outras casas legislativas, estaduais e federais é o período superior a 10 anos em que o vereador Francisco Derosso esta a frente da presidência da Câmara Municipal. Parece que a necessária oxigenação dos cargos diretivos, inerentes aos regimes democráticos, foi totalmente relegada. Fazendo com que os opositores deste grupo, bradem frases de efeito como “Derosso larga o osso”.
Nas sessões e audiências para esclarecimento das acusações que pesam sobre o vereador, segmentos dos movimentos sociais foram impossibilitados de adentrar a Câmara, que deveria cumprir o papel de Casa do Povo. O presidente, de maneira consentânea às CPIs de Brasília, se nega a responder publicamente determinadas questões, alegando que são de foro particular. São na verdade tópicos que envolvem a má utilização do dinheiro público, portanto de relevância coletiva.
A politica praticada no Paraná não é distinta das dinâmicas de outros locais do Brasil, embora acredite que não ocorra 1%, dos eventos de corrupção de locais como Brasília. Por exemplo, estamos vendo ruir a base do governo federal, com as contínuas revelações de corrupção, com diversos ministros que deixaram o governo. No senado, Sarneys, Collors e Renan Calheiros, são um dos inumeráveis nomes, detentores de um passado no mínimo curioso. Mas nas estratégias politicas prevalece a governabilidade e por ela os mais escrotos acordos são selados.
Quando veremos a revolução ou revolta necessária para mobilizar a política do Brasil e esclarecer a grande confusão, que se faz entre público e privado? Para que o dinheiro do povo, chegue em todas as partes de nosso país, não apenas nos gabinetes dos parlamentares, continuando assim a onerar pesadamente o bolso dos contribuintes.
Na atual gestão da Assembleia Legislativa do Paraná, mudanças foram feitas, objetivando tornar transparente os meandros desta nebulosa casa legislativa. Mas com o passar do tempo os mesmos absurdos se repetem com roupagens diferenciadas. Posturas como gastar R$ 400 mil reais por ano, com o aluguel de carros de luxo. Sendo um destes automóveis, um Omega Fittipaldi, modelo de luxo, avaliado em R$ 120 mil reais, certamente um veículo deste patamar, deve ser indispensável aos afazeres dos legisladores. Espero e desejo que não seja utilizado para imitar outro deputado, que no ano de 2009, conduzindo um carro blindado em alta velocidade, estava embriagado e vitimou dois jovens. Evidentemente tal deputado não esta preso e certamente não será. Além disso o legislativo tem a sua disposição um avião, porque não podem utilizar, como qualquer mortal o sistema de trasporte aéreo convencional. E para o epílogo, o deputado estadual Valdir Rossoni, ao ser perquirido sobre os 20 Frigo Bares para a ALEP, respondeu aos jornalistas, os questionando se não interessava a sua futura compra de cuecas brancas.
Caro presidente da Assembleia, agora me dirijo a você, nós cidadãos do paraná, não queremos saber sobre suas cuecas ou meias, a menos que sejam compradas com dinheiro público. Nos interessa saber porque escolas do estado estão em estado lastimável e vocês adquirindo Frigo Bares com dinheiro do Erário. A população foi consultada para opinar sobre tais compras, tal decisão, assim como tantas outras não é de total interesse da população paranaense. Quando você presidente, oferta uma resposta desta natureza, não demonstra apenas seu grande despreparo como homem público, mas principalmente um oceânico descompromisso e descaso com seus eleitores e com os demais paranaenses.